segunda-feira, 4 de outubro de 2010

ESPELHO, ESPELHO MEU!


Óbvio que estou solteira! Quem vai gostar de alguém que não se gosta????

Se estou carente???? Que pergunta mais sem pé nem cabeça, hein!!! A carência é amiga íntima da comida e, atualmente, eu não vivo sem elas.

Tenho a nítida impressão de que vivi os últimos 15 anos dentro de um círculo vicioso. Vou explicar: eu me sentia responsável por manter minha família unida, porque a família é muito importante para mim.

O curioso é que ninguém me deu esta obrigação! Eu me sentia responsável simplesmente por me sentir assim. Talvez porque eu não quisesse perder a "noção de família"!

Mas isto não estava ao meu alcance, então, eu me senti fracassada, comecei a comer e engordar. Não gostava do que via e achava que os outros também não gostariam. Fui me afastando de todos e me envolvendo com pessoas que não tinham nada a ver comigo.

Estava fracassada e perdida, pois não sabia o que fazer para mudar. Então, comia mais, para ficar feliz!!! Coma, engorde mais e se afaste mais, até se sentir totalmente sozinha e, assim, carente!

Está carente? O mundo não é o lugar onde você gostaria de estar? Então crie o seu mundo: coma, e viva no seu mundinho!!!

Resultado: depressão, crise de pânico, carência, incompreensão, vergonha, e mais medo. Medo de me olhar no espelho e não saber mais quem eu era!

Difícil mesmo foi me olhar no espelho e dizer “não, eu não sei de quem é esse reflexo”, porque nos meus sonhos, eu não apareço com este corpo.

A primeira vez que não me reconheci no espelho, foi aos 16 anos. Novinha ainda, né?

Estava na viagem de formatura do 3º colegial, em um “acampamento”. Os monitores, além de proibir os casais de namorados de ficarem juntos à noite, também nos reuniam em grupos para fazer algumas atividades.

Eu não lembro como foi o início do exercício. Só recordo que, em determinado momento, tínhamos que ficar em círculo, virados para fora, de mãos dadas. Com os olhos fechados, sentamos no chão. Tocava Watermark, da Enya, e a monitora falava, com um tom de voz muito suave.

Ela dizia coisas que nos faziam olhar para dentro de nós mesmos. E, depois de um determinado momento, ela tocava o seu ombro e você deveria abrir os olhos.

Quando fui tocada, encarei uma pessoa que eu não conhecia. Depois de alguns segundos, percebi que estava diante de um espelho e a imagem que eu via era de mim mesma, mas eu não conseguia me reconhecer.

Chorei muito. Chorei por saber que eu não me conhecia mais e por não saber o que eu tinha feito comigo mesma. Não sabia em que eu havia me transformado. Aonde foi que me perdi? Mesmo depois de um ano de terapia, ainda não descobri (dois anos de terapia e estou chegando a conclusão de que não me perdi, pois nunca soube quem eu era de verdade).

Mas, dizem por aí, que nunca é tarde para se encontrar!

obs.: o texto reflete o que eu pensava na época em que escrevi. Hoje, descobri que tenho um problema e meu organismo não processa a insulina, o que atrasa o metabolismo, impede a menstruação, causa ovário policístico, entre outras coisas... estou tratando e emagrecendo aos poucos, conforme meu organismo se adapta à produção hormonal, mas é claro que toda a comida que ingeri também ajudou no "processo de engorda". 

2 comentários:

  1. Eu gosto muito de ler vc, principalmente pq vc trás o problema e a causa

    beijos, adorei

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  2. TESXTO LINDO E SENSIVEL, COMO VC, COMO SEMPRE


    BEIGINHOSSS

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