terça-feira, 14 de setembro de 2010

AUTO SABOTAGEM


Minha mãe sempre disse que minha irmã era parecida com meu pai, pois não expunha os sentimentos e os guardava "numa caixinha". E ele guardou todos os sentimentos por 64 anos. Tenho a nítida impressão de que ele morreu deprimido.

Essa idéia me deixa muito triste. Não tive a sensibilidade de perceber que ele estava deprimido e que precisava de ajuda. Na verdade, acho que até percebi, mas não fui capaz de ajudá-lo, afinal de contas, eu também precisava de ajuda.

Agora, só posso rezar para que ele consiga seguir o caminho dele em paz, deixando de lado a depressão.

Aproveito para dizer: Pai, onde quer que você esteja, saiba que te amo muito! Você foi meu melhor amigo e te aceito do jeitinho que você era, inclusive com a teimosia, que herdei.

Meu pai foi o melhor jornalista que conheci. Era inteligente, culto, "antenado", irremediavelmente honesto, absurdamente ideologista. Meus amigos eram apaixonados por ele (e eu também!).

Certo dia, com meus amigos em casa, todos adolescentes, alguém disse que ele estava "grávido", por causa do tamanho da barriga e, ao invés de ouvir a resposta esperada ("é, estou grávido, a perninha já está saindo, quer ver?"), uma das minhas amigas, sentou ao lado dele e, passando a mão no barrigão, disse: isto não é barriga, é calo sexual.

Até hoje ela se refere ao meu pai como o "calo sexual". Dispenso discorrer sobre as gargalhadas que soltamos, ao lembrarmos da história. Aliás, nos falamos ontem. Ela está grávida e o bebe nascerá em setembro. Espero que consigamos nos encontrar antes disto.

Em tempo, o bebê já nasceu, eu fui à maternidade e faz uns 4 meses que estamos tentando marcar um almoço.

Ele era assim. Um homem de 64 anos totalmente moderno. Moderno nas idéias, mas retrógrado nas atitudes consigo mesmo. Infelizmente foi assim que vivi, nestes quase 35 anos (isso mesmo, fiquei mais de dois anos escrevendo o livro, que originou este blog, e ele foi reescrito umas 5 vezes).

Citando minha mãe, mais uma vez, o único jornalista político do país que morreu pobre!

Porém, sou obrigada a discordar de minha mãe. Eu sou extremamente parecida com ele, pois sou dura demais comigo mesma. Tudo é natural para os outros, mas não consigo aplicar essa “modernidade” para mim mesma. Já cheguei a me sentir uma “vagabunda”, pois tinha um caso com um rapaz, sem afeto nenhum (mais uma síncope para minha mãe!).

É triste perceber o quanto nos sabotamos.

O que tenho aprendido é que a auto sabotagem tem um fundamento concreto: falta de conhecimento de si próprio.

Quando não sabemos o que queremos e do que somos capazes, ou seja, quando não nos conhecemos, vivemos em “ciclos de auto-sabotagem” diários. E, ainda que estejamos cansados disto, não conseguimos nos desvincular, por puro medo de descobrir que é fácil se sabotar, pois você não sabe quem você é e o que quer para sua vida.

Por isso, fica fácil palpitar sobre a vida dos outros, mas impossível aplicar as mesmas teses a nossas vidas, pois simplesmente não sabemos quem somos!!!

Provavelmente, isso foi resultado da sua criação: muito mimo ou pouco mimo; pais ausentes ou pais controladores e invasores; muito ou pouco dinheiro. Não importa o que te motivou a agir assim.

O fato é que, de repente, você chega num ponto em que não consegue seguir mais adiante, porque não sabe o que quer encontrar lá na frente e já cansou de encontrar sempre a mesma coisa (o início do fim do ciclo)!!!

Fraqueza? Covardia? Medo? Só você poderá decidir o momento de enfrentar a si próprio!

2 comentários:

  1. CADA DIA ME ENCANTO MAIS COM VC E COM SUA FORÇA


    ALEM DE ESCREVER BEM PRA CARAMBA!!! É SERIO!!!!


    SE AUTO SABOTAR, MOMENTO DE ENFRENTAR GENTE MESMO ... AI, ESTE BLOG TA MEXENDO COMIGO!!!


    BEIGINHOSSS

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  2. Maravilhoso o texto, e essencial a cada um de nós, o auto conhecimento nos deixa temerosos diante de algumas revelações, mas é necessário sempre

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